terça-feira, 28 de agosto de 2012

Nashville, Tennessee


9°| 23/04/2012, segunda-feira @ Atlanta => Nashville


Fomos dar uma banda no centro de Atlanta para conhecer a capital do pêssego. Deixamos o carro no albergue e fomos de metrô. Estacionar no centro de Atlanta assim como qualquer capital brasileira é complicado e caro.

Tava uma ventorréia muito violenta. Digna de um dia de inverno na beira da praia de Imbé. Nosso passeio foi sendo desviado por lugares onde o vento não passava, ou seja, dentro de algumas galerias.

Moda nos EUA. Pipocas cheias de fru fru. Fuga do vento.

Bom, o centro é um centro. Vários prédios altos e imponentes. Hard Rock, Hooters, grandes redes, sombra, calçadas largas, bancas de frutas, mendigos, etc.

Procuramos algum lugar para comer uma boa “soul food”, afinal Atlanta é uma das cidades sulistas mais tradicionais. Nos indicaram dois lugares. Um deles estava fechado, e o outro era longe pra ir a pé. Resolvemos voltar, pois o pessoal do albergue tinha nos falado de um restaurante super tradicional que ficava em frente dali. Não tínhamos ido ali direto porque queríamos conhecer o centro.

Então fomos no Mary Mac’s Tea Room. Não, não é uma casa de chás. E lá servem o que tem de melhor da comida sulista e da hospitalidade que tanto é falada dos sulistas.

Realmente a comida era sensacional, o atendimento fantástico, um preço tri justo e um ambiente muito clássico. Já fomos recebidos com uns pãezinhos de milho excelentes.  Como estávamos entre três e queríamos provar muitas coisas, basicamente compartilhamos os pedidos. Tomates verdes fritos, costela de porco, bolo de carne, e mais alguns complementos. Os tomates não gostei, o bolo de carne era muito bom, mas a costela tava uma coisa de louco. Ela desfiava. Suculenta, macia e cozida na medida. De sobremesa pedimos um Georgia Peach Cobbler. Uma espécie de torta quente de pêssego com sorvete em cima. Saímos de lá rolando. A sorte que o carro tava na frente.

Tomates verdes fritos. Creme de alguma coisa. Porco desfiado

Bolo de carne. Purê. Salada de repolho.

Costelinha de porca.

Peach Cobller.

Pegamos o carro e antes de ir embora passamos no Vortex Barand Grill. Um bar e restaurante muito maluco que havia visto no “Man vs Food”. A ideia era ir no domingo, mas já estava fechado. A passada foi rápida, só pra conhecer. Realmente o bar é muito maluco, com um clima muito legal. Bem estilo americano, cheio de informação, placas, motos, caveiras, etc. Uma carta de cerveja gigante e um manual de como o cliente deve se comportar. Tomamos uma cerveja por ali, nos comportamos bem, curtimos o ambiente e partimos.

Decoração do Vortex.

A estrada para Nashville – Tennessee é muito legal. Asfalto perfeito, algumas curvas sinuosas que tu passa por paisagens muito bonitas. Morro, rio e campo. Umas 4 horas de viagem e chegamos no destino.  O bom dessa viagem foi que com a mudança de fuso horário, ganhamos uma hora.

Ficamos no Music City Hostel. Albergue muito legal, com um clima muito divertido. É dividido em umas quatro pequenas casas, e dentro de cada uma delas tem uns dois quartos menores e um grande, onde seria a sala. Um banheiro por casa. Na porta de cada quarto tem um instrumento musical, e não um número. Tudo muito limpo e organizado.

No pátio da frente tinha uma fogueira, violão para fazer um som, e tudo mais para uma boa roda. Guardamos nossas coisas, e separamos as roupas que precisávamos lavar. Quase todas na realidade. Pegamos algumas cervejas e ficamos ali na frente um pouco.

Nashville é conhecida como a “cidade da música”. Muita gente vai pra lá pra tentar a vida na música. Principalmente na música country. Isso explicava um pouco a roda de violão. Os caras tocavam demais. Descobrimos que um era músico de turnê de não sei quem, outro ia lançar um disco, outro estava lá para gravar, e por aí foi.

Depois de socializar um pouco fomos em direção a Broadway Avenue, local da vida noturna, onde estão vários “honky tonks”. Dois ou três caras que estavam lá fazia algum tempo nos acompanharam. O lugar era perto, mas nem tanto. Mesmo assim decidimos ir a pé, no frio e sem câmera de retratos.

Faltando algumas quadras já conseguíamos ver as luzes. A Broadway Avenue é uma avenida bem larga. 3 pistas que vão, 3 que voltam, e sem canteiro no meio. Nas calçadas dos dois lados, por umas 5 quadras grandes, tem lojas de discos, restaurantes, lojas de artigos de cowboy, lojas de souvenirs, e o mais importante, um honky tonk ao lado do outro. Tipo uma João Alfredo em Porto Alegre, ou Augusta em São Paulo, só que maior. Só que de country.

Honky Tonk é basicamente um buteco de música country.

Só nessa visão já se nota que o lugar é demais. Mas ele melhora. Tu não paga nada para entrar em 95% dos honky tonks. Todos tem uma banda tocando. Desde um country mais comercial até um bluegrass muito pegado. Obviamente, havia bandas muito boas, e outras bem fraquinhas. Como era segunda-feira o movimento tava devagar, mas bem melhor que a maioria das segundas-feiras que já passei em qualquer outra cidade do mundo.

Paramos no Robert’s. Muito tradicional e o preferido dos parceiros do albergue. Realmente aquilo é um buteco de música country. O batera da banda que estava tocando costumava tocar com o Buck Owens, lenda da música country. O legal que o dono do Robert’s era um brasileiro que é muito conhecido por lá. Foi pros EUA anos atrás e fez uma banda chamada Brazilbilly.

O lugar era comprido e um tanto quanto estreito. O palco ficava ao lado da porta de entrada. Ou seja, quando tu passava na rua tu via as costas do baterista. O balcão era bem longo. Duas garçonetes muito rápidas e atenciosas atendiam ali. Na outra parede haviam milhares de botas de cowboy. Essas para vender mesmo. Em frente ao palco rolava uma pista. A maioria do público era de pessoas de uns 60 anos.
Pedi um sanduíche de mortadela. Era bom, mas não chega perto do sanduíche do mercado público de São Paulo. Mas deu uma tapeada na fome. O bar também servia várias cevas diferentes. Lá ficamos um bom tempo. Demos uma caminhada pela rua para conhecer mais, e depois voltamos. Mais algumas cervejas enquanto ficamos vendo os velhinhos dançando um country. Fechamos a conta.

Voltamos para o albergue. Uma saidera e cama. No outro dia não tínhamos nada muito planejado, apenas lavar as roupas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Na terra dos caras


8° | 22/04/2012, Domingo @ Macon, GA


A ideia era acordar bem cedinho pra sair o quanto antes. Mas foi consenso geral de dormir um pouco mais e descansar um pouco.

Em seguida levantamos e começamos a arrumar toda tralha. Sorte nossa que o Fernando tinha alugado um caminhonetão e ia limpar tudo em casa. Então arrumamos nossas coisas e depois jogamos todo o resto na caçamba.

Despedida com Fernando e Lida

Com um clima de melancolia, porém, com a sensação de dever cumprido, fomos embora. Próxima parada foi Macon, Georgia. O pessoal do Allman Brothers viveu em Macon no auge criativo deles. A casa onde moravam virou seu museu, o cemitério e muitas ruas contam boa parte da história da banda.

Depois de umas 3 horas de viagem chegamos direto na BigHouse, nome da casa do AAB que virou museu da banda. Casa grande, bonita e imponente. Dois andares, grama bem verde, e no portão da garagem um grande cogumelo com os dizeres: “and the road goes on forever”. O dia estava lindo, baita sol, o que deixava o lugar mais legal ainda.

Big House

Portão de entrada dos carros

Detalhe na porta

Jardim com um palco para fazer um som

Indicação da entrada

Bom... não tem muito o que ficar falando sobre um museu. Tipo, se tu vai no Louvre tu não vai ficar contando detalhes dos quadros, cada um que olhe e tire suas conclusões. O que vale numa hora dessas são as sensações que tu tem. A gente foi na sala onde eles ensaiavam, o Hammond do Gregg tá lá, a mesa de sinuca da casa do Gregg e da Cher tava lá (Gregg Allman foi casado com a Cher em meados dos anos 70), enfim, muita coisa. Tem material de todas as fases, e de todos caras que já tocaram na banda lá. Roupas que usavam, instrumentos que tocavam, vinis que os inspiravam, pôster de vários shows desde a época que eram Hourglass. Explicam como certas músicas foram compostas. Tudo. Pra quem é fã é sensacional, realmente incrível vivenciar aquilo tudo. Acho q ficamos pelo menos 3 horas por lá.

Manuscrito original de "Don't Keep Me Wondering"

Sala de composição

Hammond do Gregg na sala de ensaios

Correia, guitar e slide do Duane

Vitrais da entrada vistos de dentro

Saímos do museu e fomos atrás de comida, afinal já devia ser umas 16h e nada de rango. Gostaríamos de almoçar no H&H, local onde os caras almoçavam e que continua com a mesma dona e cozinheira, a Mama Louise. Logo que se mudaram para Macon eles estavam mal de grana e diversas vezes Mama Louise fazia fiado. Aliás, o laço entre Mama Louise e a banda é tão forte que quando eles receberam o Grammy no último ano, ela também compareceu na cerimônia e recebeu uma estatueta daquelas. Mas infelizmente não abre aos domingos.

Um dos caras da Big House nos indicou um restaurante irlandês pra almoçar, e lá fomos. Um nome muito peculiar e super inovador pra um lugar irlandês, Shamrock. Bem legal, e com um baita atendimento. Pedi um porco (lembrava o gosto da chuleta) e um vegetal que não sabia o que era, e continuo sem saber, que se chamava “squash”. Não gostei e não identifiquei aquilo no Brasil. Veio uma salada bem boa de entrada.

Rangão irlandês

Sem muito tempo pra digestão continuamos a peregrinação Allman Brothersística.

Na entrada do museu eles te dão um mapa da cidade mostrando todos os pontos que estão diretamente ligados a banda. E no verso o mapa do Rose Hill Cemetery, onde o Duane Allman e o Berry Oalkey (guitarrista e baixista originais) estão enterrados, assim como a Elizabeth Jones Reed e a Martha Rellis.
Enquanto estavam vivendo em Macon eles frequentavam direto o cemitério pra compor sons lá. Fizeram duas obras primas instrumentais (InMemory of Elizabeth Reed e Little Martha), e colocaram o nome das músicas com o nome das pessoas das lápides que eles estavam compondo. E pro cemitério que nós fomos. Por mais mórbido e bizarro que pareça, é muito sensacional o clima lá. As músicas que eu já era apaixonado, fiquei mais ainda. Climão muito interessante.

In Memory of Elizabeth Reed

Little Martha

Também no cemitério visitamos os túmulos do Duane e do Berry, e ainda no local que eles tiraram a foto da contra capa do primeiro disco.

Túmulos de Duane (E) e Berry (D)

Contra capa

Seguimos pelas ruas de Macon até o ponto onde tiraram a foto pra capa do primeiro disco. Depois fomos nas esquinas onde o Berry Oakley e o Duane Allman sofreram acidentes fatais. Os dois morreram em acidentes de moto, duas quadras de distância uma da outra, e com um ano e alguns dias de diferença.

Capa

Local do acidente do Berry

Já era noite e tínhamos que seguir viagem. Pegamos a estrada a caminho de Atlanta. Um pouco menos de duas horas e chegamos no albergue, que parecia uma casa meio mal assombrada, tamanho era a não manutenção das coisas por lá. Piso rangendo, banheira bizarra, quartos meio abandonados, etc.

Até tomarmos banho quente, depois de 4 dias, e nos ajeitarmos, já era meia-noite, e era domingo. Rodamos, rodamos, e nada. Nem pra comer um sanduiche. Até que chegamos num bar fechado, mas que havia gente dentro. Nos indicaram uma lanchonete 24 horas.

Majestic era o nome. Clássico. Balcão gigante, estofado vermelho, e todas essas coisas clássicas. Muito legal. Comi algo que não havia comido, e estava bem curioso, cachorro quente com chilli. Nada de inovador, mas muito tradicional e com um preparo maravilhoso. Pão, salsicha, chilli, alguma cebola e acompanhado de uma boa porção de fritas. Que rango bem bom.

Bem bom

Depois disso era voltar pro albergue, dormir numa cama, tentar descansar, no outro dia a ideia era dar uma banda por Atlanta e depois partir para o Tennesse.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Última noite no Wanee


7°| 21/04/2012, sábado @ Wanee

A manhã de sábado não foi diferente das outras. Uma garoa, friozinho, e nublado. Ou seja, sem Swannee River pra gente. Já havíamos feito as duas refeições combinadas com o Fernando e com a Lida, e não estávamos afim de cozinhar. Na quinta-feira eles foram comer café da manhã num restaurante que servia só café da manhã ao lado do mercadinho do Wanee. Café de americano. Resolvemos ir lá e comer um café da manhã dos campeões que serviria como almoço.

Que ignorância. Bacon, linguiça, ovos, batatas, e toda aquela gororoba típica que a gente vê nos filmes e chega ser meio difícil de acreditar. Às 10:30 da manhã. Mas foi lá que comemos e tava bem bom e nutritivo.

Na volta do “almoço” pras barracas o sol foi aparecendo. Íamos dar uma pausa rápida e ir pro Mushroom Stage pra curtir o show da “Jaimoe’s Jassz Band”, que começaria às 12:30. Jaimoe é um dos bateras do Allman, o mais bronzeado deles.

Nessa passada pelas barracas comecei a trocar uma ideia com um vizinho de acamps, o Keith. Ele tava num motor-home muito das antigas e era bem maluco. Devia ter na faixa de 50 anos, usava um chapéu estilo de guarda florestal, era do Alabama, e tinha um dos sotaques mais carregados que vimos na viagem. A mulher dele também era uma figurassa. Parecia ser mais velha que ele, era loira, tava sempre de biquíni florescente e quase nunca falava, só ficava sorrindo, no melhor estilo de quem foi e não conseguiu voltar.

Bom, o Keith ficava grande parte do tempo jogando aquele jogo de jogar uma ferradura num pedaço de ferro que fica uns 5 metros da onde tu estás. Tem um nome pra esse esporte, mas ele falou que no sul dos Estados Unidos eles chamam de “Redneck Bowling”. Daí me convidou pra jogar. Como eu ainda tinha um tempinho, resolvi aceitar a brincadeira. Como ele falava meio rápido, cheio do sotaque, eu não entendia tudo, mas dava muita risada. Joguei umas 3 vezes e ele me convidou pra um duelo. Aceitei. E ganhei. E ele ficou reclamando pra mulher dele que eu tinha trapaceado dizendo que não sabia jogar. Foi muito engraçado. Valeu a experiência. Ganhei uma partida de “Redneck Bowling” de um baita redneck. Não é todo mundo que consegue essa façanha.

Terminado o jogo, peguei mais uma gelada e fui encontrar Thais e Gabi no Mushroom. Cheguei lá e logo começou o show do Jaimoe.

Banda muito boa. O vocalista/guitarrista é o Junior Mack. Que voz, e que feeling. Uma mistura de blues com soul, que se encaixa muito bem com a proposta jazz/funk/blues da banda. Quem toca piano é Bruce Katz, pianista que acompanha o Allman Brothers há muito tempo, inclusive, já acompanhava o Gregg desde a época do “Gregg and Friends”. Além dos dois, a banda conta com um baixista, trio de metais, e do mestre Jaimoe, que dispensa comentários. Um show leve e intimista, perfeito para começar o dia.

Jaimoe's Jassz Band

Dali fomos pro Peach Stage pra ver o show do “Trigger Hippy”. Na passada de um palco pro outro, numa banquinha de revistas estava o Zach Deputy. Ele tinha feito show no Mushroom Stage no dia anterior e tava ali curtindo, tocando uma viola e cantando. E muito. Ficamos um pouco curtindo a performance dele quando começamos a ouvir a voz de um anjo vindo do Peach Stage, e pra lá que nós fomos de imediato.

Zach Deputy

“Trigger Hippy” é uma banda nova, mas de gente das antigas, e é considerado um super grupo. A vocalista é a Joan Osbourne, aquela que canta a música “One of Us”. Na batera é o Steve Gorman, do Black Crowes. Nas guitarras Will Kimbrough e Jackie Green, que também canta e toca hammond, aliás, como toca e como canta. E pra completar o baixista Nick Govrik. Só pra registrar, o primeiro guitarrista da banda foi Jimmy Herring, do Widespranic Panic, que já tocou no Allman Brothers, e depois o Audley Freed, que tocava com o Black Crowes.

Aí dá pra ter uma ideia da sonzeira. Mas se fosse por nomes nossa seleção estaria bem melhor. Os 5 no palco se entendem como se tivessem tocando há 30 anos. A voz da Joan Orbourne é coisa de louco. É suave, cheia de feeling, de tesão e de muita presença. As músicas são o que tem de melhor do rock dos anos 60/70. Jams ocorrem com frequência e são sensacionais, de muito bom gosto. Excelentes músicos, fazendo música de altíssima qualidade. Baita show e uma grande descoberta.

Eles ainda não tem disco gravado, mas compramos o “Live At Wanee” que saiu logo que acabou o show. Fiquei sabendo que o disco oficial sai ainda este ano. Vale muito a pena ficar atento.

Aqui tem o setlist do show no com o link pra curtir as músicas.

Trigger Hippy

O próximo show no Peach era do “Gov’t Mule”, banda do Warren Haynes, guitarrista/vocalista do Allman. A expectativa era grande. Conversei com várias pessoas no Wanee que comentavam que a banda favorita era o Allman Brothers, mas que o show do Gov’t Mule era melhor. Eu considero isso impossível, mas tava louco pra ver o Mule ao vivo, independente de ser melhor ou não que o ABB ao vivo.

Ficamos onde estávamos. O tempo começou a fechar. Já tínhamos nossos “ponchos”, como os americanos chamam de capa de chuva.

Quando o show iniciou a chuva começou a cair. Nada que interrompesse a genialidade dessa banda. Show muito bom, repertório bem bacana. Mas cada música que rolava, mais água caia, e pra piorar, ela ia direto pro palco. O vento que batia era todo em direção ao palco. Era notável a preocupação da banda com equipamento. Pararam uma vez, deram uma tapada nas coisas e voltaram. Mas em seguida ficou inviável. Cobriram tudo e saíram de cena. Ficamos uma hora na tenda “Hittin’ The Note”, de produtos oficiais do Allman, esperando a chuva passar e o show continuar. Para nossa infelicidade não aconteceu isso.

O show do Mule acabou de forma precoce, mesmo assim posso dizer que foi um baita show enquanto durou. Aqui tá o curto set do show

Gov't Mule antes da chuva

A coisa boa nesse momento baixo astral foi ficar na tenda, e quando de repente Reggie Pittman puxa um trompete da sacola e começa a tocar alegrando os refugiados da chuva. E todos gringos cantando junto. Momento muito do caralho. Reggie Pittman é o trompetista da banda do Jaimoe, e que iria fazer algumas participações no show do Allman de logo mais.

Reggie Pittman na banca Hittin' The Note

Como não havia perspectiva de show por algumas horas no Peach, fomos pro Mushroom. E lá mais uma surpresa. Show de Charles Bradley. Cantor de soul de uns 65 anos com uma banda de uma gurizada de uns 30 anos. Charles Bradley é um cara que passou a vida inteira fudido, e fazia alguns shows como cover de James Brown. No início dos anos 2000 foi descoberto, e em 2011 lançou o primeiro disco da carreira, como Charles Bradley and his Extraordinaires. Já conhecia o disco, mas não era um entusiasta, mas o show dele é demais.

Aquele soul bem funkeado, cheio de energia, com um cara que tá extremamente feliz em estar ali. Ele dança demais (nunca vi o James Brown pessoalmente, mas acho que é bem próximo), abre espacato (sei lá como se escreve), joga o microfone no chão e puxa. Pra completar ele usava uma jaqueta de couro aberta, e ele é baixinho com uma pança Zeca Pagodinho. Simplesmente sensacional! A banda afinadíssima e cheia de ritmo. Todos presentes no Mushroom Stage dançando de baixo da chuva. Em dado momento ele desce do palco e abraça todo mundo, todo mundo mesmo. Achei que ele não ia voltar pro palco. E o engraçado que ele tem cabelo bem pixaim, a chuva batia e não molhava. No final ele gritou inúmeras vezes: “I love you”. Foi a primeira vez que acreditei, porque ele quase chorava falando isso.

Não achei o setlist, mas tem esse vídeo do Wanee.

Charles Bradley & His Extraordinaires

Ficamos pelo Mushroom esperando o show do Big Sam’s Funky Nation.

Por incrível que pareça é uma banda de funk, liderada pelo Big Sam. Mas não é só isso.

A banda é relativamente nova, os caras parecem ter na faixa de 30 a 35 anos. Não ficam apenas no funk. A banda é formada por batera, baixo, guitarra e dois vocalista que também tocam trombone e trompete. Ou seja, não tem muita firula. É um som bem cru.

Eles misturam funk, com o jazz de New Orleans e muito rock and roll. Algumas vezes puxando um som bem pesado. O Sam e o outro vocal, Andrew Bahan, ficam dançando, pulando e tirando onda o tempo inteiro, enquanto baixo/batera/guitarra ficam numa grooveira de levantar defunto.

Além de excelentes músicos, e a música ser muito boa, a interação com o público é um diferencial. Música após música os caras pedem a participação do público, e sempre são atendidos. O destaque fica pra “Shake That Funky Donkey”. Com esse título não precisa ir longe pra imaginar do que se trata. Também rola uma versão da clássica do Otis Reeding, muito conhecida na versão do Black Crowes, “Hard To Handle”, que na versão funk ficou fantástica. E na finaleira rola uma dobradinha Adele/Lady Gaga, que ficou muito engraçada. Mais um baita show, e mais uma recomendação de banda pra tu conhecer.
Big Sam's Funky Nation

Big Sam says: "Put your hands up"

Depois do show voltamos pro acampamento sentar um pouco pra descansar e dar uma relaxada. Ficamos ouvindo o show do Furthur de longe. Parecia ter sido muito foda, mas ouvindo o disco do show não foi tanto. Coisas do Wanee.

Fim do show do Furthur, era hora de ir pro Peach curtir o show do Allman.

Nos posicionamos mais na lateral, mas relativamente perto. O grande medo da noite era o estado do Gregg. Ou melhor, a presença dele.

Desta vez o show começou na hora, e lá estava o mestre no seu Hammond. Antes mesmo de começarem a tocar a felicidade já era grande.

Bom, o show começou com “Jessica”. Que climão. A banda estava demais. Eles podiam ficar fazendo uma jam nessa música por umas 3 horas que ninguém ia se importar.

Emendaram “Come and Go Blues”. Notava-se o Gregg um pouco cansado, mas vale mais um Gregg cansado que todos outros juntos inteiros.

Seguiu com “I Walk On Gilded Splinters”, cover do Dr. John que seguidamente o Allman toca nos shows. Dessa vez contaram com a participação do Luther Dickinson (North Mississippi Allstars e Black Crowes), na terceira guitarra. Participação de luxo. Os solos ficaram matadores e os duelos entre os 3 ficaram fenomenais.

“The Sky Is Crying” foi a primeira com o Warren nos vocais. Acho que pelo fato do show do Gov’t Mule ter sido “cortado” ele chegou com mais gana que o normal. Quando ele começou a cantar parecia que as árvores iam cair de tamanha força que vinha do cara. E junto com ele trouxe a banda inteira. Os solos estavam sensacionais, extremamente viscerais .

Derek e Warren em chamas

A instrumental “Hot’lanta” foi a próxima numa versão primorosa com uma inserção de “All Along The Watch The Tower”. Reggie Pittman, o trompetista da banca na hora da chuva, tocou junto essa música.

Antes do show continuar, Gregg deixa o palco. Dessa vez parecia combinado. No show do dia anterior ele havia abandonado no meio das músicas. E novamente o Kofi Burbridge assumiu o B3.

Mais uma pro Warren Haynes cantar, “Rockin’ Horse”. Cada música que era tocada dava pra sentir mais e mais a inspiração do Derek e do Warren nessa noite. Os caras tocam demais todas noites, mas assim como tudo na vida tem dias que tu tá mais inspirado que outros. Numa jam band faz bastante diferença, e neste dia eles estavam em chamas, e como são os maestros da banda, a banda inteira tava destruindo. Faço uma relação direta com futebol, quando o camisa 10 do time tá inspirado o time inteiro joga muito. Mesma coisa.

Então subiu ao palco Jimmy Hall, vocalista e gaitista do “Wet Willie”, grande banda também de Macon, Georgia. Ele é uma figuraça que canta e toca demais. Já chegou no palco de chapéu e com um cinto tipo do Batman cheio de harmônicas.  O primeiro som que ele cantou foi “She Caught The Katy”, do Taj Mahal. E seguiu com “Stateboro Blues”, música do Blind Willie McTell que ficou eternizada na versão ao vivo do Allman. Simplesmente fantástico.

Participação do Jimmy Hall

O show continuou com “Into The Mystic” do Van Morrison, que também é corriqueira no set do Allman e que o Warren canta. Então rolou outra participação, dessa vez do Junior Mack, vocalista da banda do Jaimoe. Já havia comentado que o cara cantava muito, e aqui eu enfatizo isso. Tocaram “One Way Out”. O cara cantando parecia ser fácil cantar, tamanha facilidade dele fazer o trabalho. Versão primorosa.

Junior Mack em One Way Out

É estranho tu ver um show do Allman com tantas músicas sem o Gregg lá, em contrapartida tu vê como é o clima de camaradagem e que realmente só a música interessa pra eles. Conseguiram transformar um clima que podia parecer pesado pela falta de um membro da banda, numa celebração a música, onde pareciam uns guris tocando e se divertindo na garagem de casa com os amigos.

Depois disso Jimmy Hall voltou para tocar harmônica numa versão matadora de “Mountain Jam”. No meio no solo, assim como rolou em “Hot’lanta”, teve a inserção “acidental” de “Smokestack Lightnin’” do Hownlin’ Wolf.

Pausa.

Depois de uns minutos voltam pro palco apenas Gregg, Warren e Derek pra fazer um esquema voz e violão (neste caso guitarras). Então tocam “The Needle and The Damage Done” do Neil Young. Acho que nunca tinha arrepiado tanto ouvindo uma música. Quando o Gregg começou a cantar parecia que tinham quebrado os joelhos de todos presentes no lugar. A música parecia ser da vida dele, e a interpretação foi simplesmente muito foda.

E para encerrar com chave de ouro “Southbound” com participação especial de todo mundo que estava lá. Era uma galera no palco. Clima de festa total, perfeito pra acabar um show como esse.

Aqui tá o set.

Mas a noite não acabava ali. Terminado o show do Allman fomos em direção ao Mushroom, onde já havia começado o show do North Mississippi Allstars.

Foi uma pena uma banda tão legal como esta ficar pra depois do Allman Brothers e tão tarde. É complicado curtir algo depois de um show tão quanto foi o do ABB, mas os caras detonaram.

Luther Dickinson (que também é o atual guitarrista do Black Crowes) canta de um jeito muito legal, e toca muita guitarra. O baixista era substituto, mas ele e o batera fizeram uma cozinha muito porrada que deixava o Luther viajar como queria. Jams fantásticas e músicas muito legais. Um rock com muita influência de blues e folk. 

O clima no Mushroom tava demais, muita luz maluca, e o palco montado de um jeito bem diferente. Eles ocupavam um pouco mais da metade, a outra metade ficava pras guitarras do cara, a bateria fica no canto, o baixo no fundo e ainda contavam com um “telão” no fundo. Ou seja, os músicos ficavam bem perto uns dos outros.

O setlist tu confere aqui.

North Mississippi Allstars

Excelente show pra finalizar o festival. Pra quem não conhece North Mississippi Allstars, procure conhecer. É muito bom, o último álbum deles, o “Keys To The Kingdom”, é demais.

Depois disso tudo a única coisa possível era uma saidera no acampamento e um colchão inflável. A ideia era acordar cedo no outro dia pra irmos para Macon, conhecer o museu do Allman Brothers e visitar o cemitério da cidade.

:^)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Porquinha e Allman Brothers


6°|20/04/2012, sexta-feira @ Wanee


A manhã foi bem parecida, tanto no clima, quanto nas atividades. Mas como hoje era dia da porquinha ir pra brasa resolvemos dar uma arrumada na estrutura do acamps, afinal, podia chover e queríamos estar preparados pra isso. Colocamos lona, esticamos redes, juntamos estiropores, profissionalismo.

Gabi na rede, e eu de olho na porca

Que prazer inenarrável fazer uma costelinha de porca em pleno Wanee no dia que assistiria o Allman. Fernando começou a parada e foi dar uma banda com a Lida, me deixando no cargo. Que felicidade. Sou um cara simples, e o fato de estar lá assando aquela porquinha me rendeu um sorriso muito grande e uma satisfação enorme.

Preparo era diferente, mas a adaptação foi imediata

Bom, só pela imagem não preciso dizer que ficou muito, mas muito bom.

Terminada a refeição fomos em direção ao Peach Stage (palco principal) que às 13:30 começava o show do Buddy Guy. Essa hora tu deve estar pensando: porra, comeram uma costelinha de porca no acamps e agora tão indo ver o Buddy Guy? É meu amigo, it’s getting better all the time.

Os shows no Peach Stage começaram às 11h com o Bobby Lee Rodgers, que já havíamos visto, e em seguida Bruce Hornsby, que iríamos assistir em New Orleans. Ou seja, a preparação mesmo era pro véio.

É bom explicar um pouco do Peach Stage. Ele é completamente diferente do Mushroom. É um campão gigante, deve ter capacidade pra umas 60 mil pessoas, quando completamente lotado. É um baita palco que o fundo são as árvores do lugar, apenas o Allman usa telão. E lá grande parte do público leva cadeiras. Chegam cedo, postam suas cadeiras e lá ficam. Saem, vão no banheiro, comem um esquema, e o lugar está sempre garantido. As cadeiras vão quase até a linha da mesa de som. E o espaço perto que sobra são alguns corredores onde passam os fios do palco pra mesa. Muita sabedoria, mas pra quem não tinha cadeira, que era o nosso caso, era uma merda. Mas como tudo nessa vida é aprendizado, na próxima vez levaremos as nossas. E o fato de ser campo é bom por poder ficar de pé descalço ou deitado que não dá nada, na real é quase lei.

Peach Stage de longe

O sol tava de rachar e conseguimos ficar num ponto relativamente perto do palco, num dos corredores de fios.

Sobre o show... o cara é muito carismático, não para de sorrir um segundo, e sempre que pode faz alguma piada. No início, no meio ou no final das músicas. Sempre chamando o público e tirando onda quando não era correspondido.

Pouca gente canta blues e faz a guitarra chorar como ele. Tocou um clássico atrás do outro, com uma energia que coloca qualquer guri no bolso. Desceu no meio do povo com a guitarra e não parou de solar, com a banda acompanhando. Foi até a área VIP que tinha uma sombrinha (experiência fala por si), parou no meio da mulherada, tirou uma onda, e voltou pro palco. Fantástico.

Depois descobri uma coisa, que na realidade nunca tinha parado pra pensar. O Buddy Guy tem 75 anos de idade. Ele tocou a última música que ele fez, o nome da música é “74 Years Young”, que ele compôs ano passado. Sonzeira. Show mais do que perfeito pra abrir os trabalhos musicais de um dia que prometia muito.

E aqui tem o set list do show dele.

Buddy Guy fazendo a pequena chorar

Ficamos no mesmo lugar, derretendo, no aguardo da Tedeschi Trucks Band, banda da Susan Tedeschi e do Derek Trucks (mulher e marido), que é um dos guitarristas do Allman Brothers, que na minha humilde opinião é o guitarrista mais foda dos últimos tempos. Outro Allman na banda é o baixista Oteil Burbrigde. Tive a oportunidade de assistir o show deles em 2011 no SWU, e definitivamente foi um dos melhores shows do festival.

A banda é nova, os dois já tinham carreiras solo consolidadas, e em 2011 juntaram as forças, montaram a banda e gravação um baita disco, o Revelator, que inclusive ganhou o grammy de melhor álbum de blues, superando os solos do Gregg Allman e do Warren Haynes. A banda consiste em 2 bateras, trio de metais, dois backing vocals (um deles é o Mike Mattison, vocal da carreira solo do Derek), tecladista (Kofi Burbrigde, primo do Oteil), baixista (Oteil) e os dois (Susan e Derek) nas guitarras e ela no vocal.

Pelas 15:15 começou o show. A banda é demais, os instrumentistas são uns monstros e ela canta muito. Confesso que o show do Brasil eu achei mais legal, mais pegado. O set list do Wanee foi bem mais leve, muitas músicas lentas em sequência. Não rolou aquele clima de ficar dançando igual o boneco do posto. Mas mesmo assim foi demais, as jams que eles fazem são incríveis. Parece que quando o Trucks tá tocando ele faz com que todo mundo que esteja tocando com ele toque melhor.

É sempre bom assistir um show que tu não sabe as músicas que vão rolar. Não é aquele set list estático igual em todos shows. Isso já deixa o show melhor. E foi assim que funcionou.

O que achei simplesmente fantástico, e que realmente não esperava, foram duas músicas que o Mike Mattison cantou da Derek Trucks Band. “I know” e “Down Don’t Bother Me” foram executas em momentos distintos do show, não uma atrás da outra. As duas são do álbum “Already Free” que aconselho muito a comprar, ou baixar.

Aqui o set list do show.

Tedeschi Trucks Band

Acabado o show fomos comprar chapéus. O sol tava de renguear cusco.

Em seguida retornamos ao Peach Stage pra ver o show do Furthur. Furthur é a banda do Bob Weir e do Phil Lesh, guitarrista e baixista do Grateful Dead. Não sou um grande apreciador de Grateful Dead, mas tava muito curioso pra ver o show. Quando começamos a andar pelo Wanee nos primeiros dias notamos que não é uma simples banda, é algo muito maior. Os caras são uma entidade, um modo de vida. Acho que eles tem tantos produtos quanto o KISS, Jerry Garcia (vocalista do Dead que morreu em 1995) coloca John Lennon no chinelo, enfim, é um esquema grandioso.

Tentei entender um pouco disso, e o que eu entendi após ter trocado uma ideia com um dos vendedores foi o seguinte: nos anos 60 o Grateful Dead não parava de excursionar, de tomar ácido e de tocar (foram eles que começaram com essa pilha de ficar fazendo jam durante 30 minutos). Saiam de San Francisco e viajavam os Estados Unidos num ônibus colorido (o Furthur). Os fãs eram hippies que gostavam de ver o mundo de um jeito colorido e seguiam eles nos seus próprios microbus. Onde eles iam tocar os caras (fãs) estacionavam seus veículos em frente do local e vendiam os produtos que eles mesmo faziam da banda. E o Wanee era um grande estacionamento dessa galera gente fina. Posso ter entendido errado, mas acho que era isso mesmo. Fazia todo sentido.

Quando começou o show parecia que o som tava baixo, mas foi melhorando. Achamos um lugar na sombra e lá ficamos. A previsão do show era de 3 horas. Das 17:30 às 20:30. A gente ficou lá por umas 4 músicas. Realmente não faz meu tipo de som. Mas era bacana ver o pessoal dançando de olhos fechados.

Uma coisa muito legal do Wanee é quanto mais louca a pessoa parecia, mais as pessoas gostavam dela. Então tu vê muita gente dançando de um jeito muito maluco, bem pior que festa de casamento, e as pessoas não olham atravessado, ao contrário, olhavam com um olhar de admiração. Cada um faz o que passar na cabeça e não tá nem aí. Lindo.

Furthur 

A gente saiu de lá e deu uma passada no Mushroom Stage e assistimos um pedacinho do show do Bonerama. Não ficamos muito porque iríamos assistir o show deles em New Orleans. É bem massa, mas depois vou escrever sobre eles.

Bonerama

Apesar de ter comido não fazia muito tempo, fomos comer um café da tarde porque a pilha era assistir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk e depois do Allman Brothers sem ter que parar pra comer.

Algumas pessoas nos falaram de um sanduiche muito bom que tinha lá e a gente resolveu provar. Era o Ham Sandwich Al Funghi. O preparo era extremamente simples, mas o gosto era fantástico, de deixar o vivente com as pernas bambas.

Partimos pro Mushroom Stage pra curtir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk (Ai- van Né-vil Damps-ta-fank). Que loucura. Já tava ficando escuro e o lugar estava muito maluco. Era bambolê que brilha do escuro pra tudo que era lado, muita gente de chapéu doidão, enfim...

O Ivan Neville toca teclado, e foi da banda solo do Keith Richards por um bom tempo. Já conhecia o trabalho da banda de uns discos baixados por aqui. Sabia que a coisa era boa, mas não tanto. Eles fizeram um especial Funkadelic, com as roupas que eles usavam nos anos 70 e o repertório inteiro dos caras. Nunca vi tamanha funkeira.

A banda é batera, teclado, trio de metais, baixo, guitarra e um coringa. Ele toca um pouco de guitarra e muito baixo. Ou seja, a maior parte do show os caras contam com dois baixistas. Banda dos sonhos. E assim... os caras tocam demais. Em vários momentos aproveitam o fato de ter dois baixos e um deles fica usando algum efeito maluco. Apelidei o som do baixo carinhosamente de “Brain Grinder”, a tradução livre “esmurrugador de miolos”. Nunca tinha presenciado algo como aquilo.

Quase todo mundo canta na banda, o que deixa mais legal ainda, o som fica muito cheio. Eles ocupam todo espaço possível, uma pedrada sonora bem no meio da cara. Se todo mundo tava dançando de um jeito maluco no show do Furthur, imagina no Dumpstaphunk tocando Funkadelic.

Essa foi a única foto que tiramos do show. hehehe

Com certeza um dos momentos mais divertidos que já passei na vida. E aqui tá o set do show.

Acabou o show, paramos um pouco, respiramos fundo (afinal o impacto foi forte) e seguimos pro Peach Stage, onde ia começar o show do Allman Brothers.

Um momento muito engraçado foi quando estávamos caminhando em direção ao palco num bréu q não se via nada, no meio de uma multidão sentada no chão, apareceram uns pés. Umas 5 pessoas estavam deitadas e com pés pra cima, tipo olhando pros pés e o céu de fundo. Eles pareciam estar conversando com os pés. E quando passamos por eles falamos: “Hello feet”. E nos responderam mexendo os pés: “Hello”.
Mesmo com aquele monte de cadeira fomos pro meio e ficamos perto do palco e centralizados. E ninguém reclamou. Muito saudável.

Tenho sorte de já ter visto 4 shows do Allman Brothers, ou seja, fui pro Wanee porque os outros dois que eu havia visto foram as experiências mais incríveis que tive em vida. O melhor do show do Allman é que tu não faz ideia do que vai acontecer.

O show teve um pequeno atraso, mas quando começou...

Abriram com a dobradinha que inicia o primeiro disco “Don’t Want You No More” e “It’s Is Not My Cross T Bear”. O show do Allman é o único com telão gigante no fundo, e que telão. Fica só passando imagens malucas, tipo como se tu estivesse dentro de um mãe da água bailarina. Em outros momentos são cogumelinhos que começam a dançar em volta de um grande Cogu. Fantástico. Pronto. Já tinha valido tudo.

Antes de começar a falar mais do show, quero comentar uma coisa, só vou relatar o que eu vi por lá, porque explicar as sensações é algo impossível. Já dizia isso antes, agora tenho duas testemunhas comigo. Só estando lá pra sacar o que se passa, e mesmo assim nem tu entende direito o que tá acontecendo.

Em seguida emendaram “Midnight Rider”. E era só o início. Seguiu com “Blue Sky”. Como disse, nenhum show dos caras é previsível, sempre mudam o repertório, afinal fazem de acordo com a pilha da noite. Mas “Blues Sky” realmente eu não esperava. Ela foi escrita pelo Dickey Betts pra mulher dele em 1972, e visto que o cara saiu da banda muito brigado com todo resto e essa é uma música bem pessoal, não era muito esperado. E foi demais ver o Warren Haynes cantando.

“Worried Down With Blues” que é original do Gov’t Mule, mas que seguidamente o Allman toca, continuou o show com o Warren nos vocais, e que vocais. Acho que o cara não precisava de microfone. A voz ecoava em todo canto. Nesse som se notava o desconforto do Gregg Allman. Em março ele abandonou um show no meio, e não pôde comparecer em outro por conta de um problema nas costas. E no meio dessa música ele saiu do palco. Confesso que rolou uma tensão no momento. Foi ele sair que o Kofi Burbrigde (tecladista da Tedeschi Trucks Band) assumiu o órgão do Gregg.

No intervalo desse som parecia que eles iam mudar o caminho do show, afinal, não estava nos planos “perder” o Gregg. Então tocaram uma instrumental que não tem em nenhum disco, e pelo q sei, eles vem tocando em alguns shows, a “Egypt”.

Depois disso chamaram a Susan Tedeschi pra cantar “Stand Back”, ainda com o Kofi no órgão.

Em homenagem ao Levon Helm, que havia falecido poucos dias antes e era grande amigo da banda há anos, fizeram um bloco especial com 3 sons. Começaram com “It’s Makes No Difference”, com a participação de toda a Tedeschi Trucks, menos os bateristas. Gregg Allman voltou e tocaram “Blind Willie McTell” que é o Bob Dylan, mas que o The Band tocava direto, mais que o próprio Dylan. E pra fechar o bloco Levon Helm tocaram “The Weight”, a música mais famosa do The Band, que tá na trilha do “Easy Rider”. Nessa além de ter novamente a participação dos vocais da Susan Tedeschi , dos backing vocals, e do trio de metais da Tedeschi Trucks Band, eles chamaram o Bob Weir, do Furthur. Momento realmente emocionante.

Levon Helm no telão

O show seguiu com “Dreams”. O Gregg cantou a parte dele, e saiu do palco de novo. E lá tava o Kofi para seguir no órgão. Então foi a hora de “In Memory of Elisabeth Reed”, música instrumental, que normalmente vai longe. E não foi diferente, e sempre uma viagem excelente.

Saíram do palco. Uns 5 minutos depois voltaram, e com o Gregg. Tocaram “No One To Run With” para fechar. O show teve 14 músicas, vários contratempos, quase duas horas e meia. Foi uma noite pra ser lembrada. Estar naquele lugar, rodeado daquelas pessoas desconhecidas e dos melhores amigos e ouvindo aquela música. Perfeito. E o melhor era saber que no outro dia tinha mais.

Finaleira do show com Duane no telão
E aqui o set do show.

Bom, depois disso nos restava só uma coisa: ir pro acampamento tomar a saidera e capotar. Na passada ainda tava rolando um show no Mushroom, mas era uma banda de música eletrônica, a Particle. Paramos só pra ver o Mushroom Stage mesmo e toda sua magia, e seguimos.


Obs.: agradecimento especial pra Thais pelas fotos. Senão fosse ela esse blog não teria imagens.

:^)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Ambientação no Wanee


5° | 19/04/2012, quinta-feira @ Wanee


A noite no Wanee era muito fria, principalmente pra gente que não foi preparado pra isso. Rolava uma chuvinha e a manhã era nublada. E pra completar era a hora de tomar aquele banho gelado. Mas era só imaginar o que estava por vir que isso tudo era motivo de sorrisos.

Curioso eram alguns chuveiros que ficavam numa espécie de caçamba de caminhão e divididos por boxes onde tu tinha que primeiro se ensaboar, e depois ficar segurando uma espécie torneira/alavanca pra sair água gelada do chuveiro. Ou seja, banho em doses homeopáticas. Uma maravilha. Era muito engraçado ouvir a cada esguicho q saía das dos chuveiros os gritos: “Oh my God!” ou “Son of a b...”. Existiam os banhos nos banheiros mesmo, com água o tempo inteiro ligada e essas coisas, mas normalmente tinham mais filas, e a água era igualmente gelada. Segundo relato da Gabi, ela tomou uma vez banho quente, mas foi no final dos shows, não na manhã.

Até levantar mesmo, arrumar um pouco melhor as coisas, algum tempo já tinha passado. De almoço fizemos uma super massa com molho que havíamos comprado no Walmart. Refeição de campeão.

Massuda típica de acampamento, não importa onde esteja

Era dia de Mushroom Stage. Bom, esse lugar é fantástico. A vibração do lugar é incrível. O palco fica num lugar todo fechado por árvores. Na frente tem um espaço pro pessoal curtir o show de pé, pulando, plantando bananeira, etc. E depois tem uma subida, estilo as praças porto alegrenses, onde ficam as árvores. Ou seja, onde tu estiver vai conseguir ver o show bem direitinho, a não ser que fique atrás de uma árvore. O pessoal aproveita as árvores e coloca suas redes pra curtir o show, ou muitas vezes, dormir. Lycras esticadas em cima do palco pra fazer sombra dão um ar de psicodelia, que junto com os duendes e os incansáveis bambolês... bah.

Vista de fora do Mushroom stage

Vista de dentro (não é do mesmo momento da foto acima)


Vista noturna

A função começou às 14:30 com uma banda chamada Bonnie Blue, mas não vimos. Chegamos no meio do show do Bobby Lee Rodgers Trio. Figuraça que ia fazer mais uns dois shows no Wanee, além daquele. O som é uma mistura entre rock, blues, jazz, mais um monte de coisa. Não curti muito, mas não tava ruim. E a banda tem uma humildade cativante. Valeu pela ambientação.

Um pouco antes das 17:30 Ray Manzarek (tecladista do Doors) subiu no palco e começou a se ajeitar. Às 17:30 começava o show dele com o RoyRodgers, um guitarrista americano de Delta Blues. Os dois fizeram um disco (aliás, QUE DISCO!) em 2011, chamado “Translucent Blues”. Havia baixado o disco, me apaixonado e estava esperando ansiosamente pra esse show, que imaginava que seria basicamente o disco mais alguma coisa de cada um deles. E pra constar, não curto Doors.

Ray Manzarek & Roy Rodgers Band

O show começou com a primeira música do disco, “Hurricane”. Bom, dali pra frente foi basicamente o disco inteiro, com (pelo que lembro) duas intervenções do Ray Manzarek. Numa ele fez só o piano de uma música do Doors, e deu um discurso sobre as drogas, o espírito do Wanee e dos anos 60. Climão de nostalgia e alegria. Eu que não conhecia a música senti isso. E em outro momento, mais pra finaleira, a banda tocou “Riders of the Storm”.

Show muuuito bom, músicos excelentes e um repertório muito legal. Foi impressionante ver um show de um cara da importância dele tão de perto e sem um empurrão. Bom registrar que a tarde foi extremamente ensolarada. Inclusive dando na moleira dos velhos no palco.

Foi mais ou menos nessa hora que recebemos a informação mais baixo astral da viagem inteira: Levon Helm havia falecido. Ex-baterista, vocalista e mais um monte de coisa do The Band, morreu de câncer. Bom, mas bola pra frente.

Final de tarde era hora do show do filho do homem, o DevonAllman’s Honeytribe (Dé-von Al-man Rã-ni Trai-bi). Outro show em que estava com bastante expectativa. Na frente do palco já tinha bem mais gente, e o clima parecia mais animado. Deve ser efeito da "noite".

Devon's Allman Honeytribe

A banda consiste num power trio que ele canta e toca guitarra, onde baixo e batera tem muito espaço, fazendo várias partes instrumentais só os dois. Eu conheço um disco deles (eles tem dois), o “Space Age Blues”, que gosto pra caralho e conheço todos sons. Bom, acho q eles tocaram umas 3 do disco. Mas mesmo sem conhecer muito do repertório o show foi muito bom. Muita energia da banda e bastante interação com o público, que respondia bastante. Muitas jams. Nesse show rolou um cover bem conhecido, “Midnight Rider” do Allman Brothers, que levantou muito o público. Outra coisa muito legal desse show foi um cartaz de tamanho real do Gregg Allman andando pelo público, até o Devon ver o cartaz e dizer: “Olha! É meu pai. Chega ser meio assustador”.

Junto com o Freaky Gregg

Logo que acabou o show a banda foi numa tenda de venda de discos. Apareci por lá e tirei umas fotos com os caras que foram extremamente simpáticos e felizes por um maluco do Brasil ter ido lá falar com eles.

Com os caras

Depois disso fomos bater um rango. Comi uma espécie de sanduiche de carneiro com pão sírio. Espetacular. Recheado ao melhor estilo do Speed. A carne do bicho derretia na boca e o tempero extremamente simples e muito bom. No final do lanche rolou aquela sensação de prazer que o cara chega ficar meio mole. Sim, a fome foi o maior tempero, mas outro dia repeti e tava igualmente bom. Pena não ter foto.

De volta ao Mushroom Stage. Às 21h começou o show do HotTuna Eletric. Essa banda foi formada em 1969 quando o Jeffersno Airplane fez uma pausa porque o vocalista tava mal da garganta. O resto da banda decidiu continuar fazendo um som e a ideia deu certo. O que era pra ser um projeto de verão virou uma banda que até hoje está fazendo shows e gravando discos.

O som é um rock bem na manha. Nada de muita distorção, viradas malucas de bateria. Coisa dos hippies americanos dos anos 60. Os velhos tocam e entendem muito. Fazem muitas jams. Transformam músicas de 3 minutos em músicas de 8 ou 9 minutos com muita facilidade. Não curti tanto pelo fato de não sentir as músicas mudarem muito a dinâmica. Elas ficam longas, mas mantém sempre a mesma levada. Para quem gosta de Bob Dylan e Grateful Dead eu aconselho, e muito.

Hot Tuna Eletric

Para fechar o dia rolou show do Conspirator. Banda de música eletrônica, mas ao vivo. Fazem tudo na hora, inclusive jams e tudo mais. A gente deve ter assistido uns 4 minutos e foi embora. Realmente não é minha praia, nem da Thais e nem da Gabi.

Fomos pras barracas tomar a saidera e ir pro colchão inflável. O grande dia estava para chegar!
:^)