terça-feira, 24 de julho de 2012

Porquinha e Allman Brothers


6°|20/04/2012, sexta-feira @ Wanee


A manhã foi bem parecida, tanto no clima, quanto nas atividades. Mas como hoje era dia da porquinha ir pra brasa resolvemos dar uma arrumada na estrutura do acamps, afinal, podia chover e queríamos estar preparados pra isso. Colocamos lona, esticamos redes, juntamos estiropores, profissionalismo.

Gabi na rede, e eu de olho na porca

Que prazer inenarrável fazer uma costelinha de porca em pleno Wanee no dia que assistiria o Allman. Fernando começou a parada e foi dar uma banda com a Lida, me deixando no cargo. Que felicidade. Sou um cara simples, e o fato de estar lá assando aquela porquinha me rendeu um sorriso muito grande e uma satisfação enorme.

Preparo era diferente, mas a adaptação foi imediata

Bom, só pela imagem não preciso dizer que ficou muito, mas muito bom.

Terminada a refeição fomos em direção ao Peach Stage (palco principal) que às 13:30 começava o show do Buddy Guy. Essa hora tu deve estar pensando: porra, comeram uma costelinha de porca no acamps e agora tão indo ver o Buddy Guy? É meu amigo, it’s getting better all the time.

Os shows no Peach Stage começaram às 11h com o Bobby Lee Rodgers, que já havíamos visto, e em seguida Bruce Hornsby, que iríamos assistir em New Orleans. Ou seja, a preparação mesmo era pro véio.

É bom explicar um pouco do Peach Stage. Ele é completamente diferente do Mushroom. É um campão gigante, deve ter capacidade pra umas 60 mil pessoas, quando completamente lotado. É um baita palco que o fundo são as árvores do lugar, apenas o Allman usa telão. E lá grande parte do público leva cadeiras. Chegam cedo, postam suas cadeiras e lá ficam. Saem, vão no banheiro, comem um esquema, e o lugar está sempre garantido. As cadeiras vão quase até a linha da mesa de som. E o espaço perto que sobra são alguns corredores onde passam os fios do palco pra mesa. Muita sabedoria, mas pra quem não tinha cadeira, que era o nosso caso, era uma merda. Mas como tudo nessa vida é aprendizado, na próxima vez levaremos as nossas. E o fato de ser campo é bom por poder ficar de pé descalço ou deitado que não dá nada, na real é quase lei.

Peach Stage de longe

O sol tava de rachar e conseguimos ficar num ponto relativamente perto do palco, num dos corredores de fios.

Sobre o show... o cara é muito carismático, não para de sorrir um segundo, e sempre que pode faz alguma piada. No início, no meio ou no final das músicas. Sempre chamando o público e tirando onda quando não era correspondido.

Pouca gente canta blues e faz a guitarra chorar como ele. Tocou um clássico atrás do outro, com uma energia que coloca qualquer guri no bolso. Desceu no meio do povo com a guitarra e não parou de solar, com a banda acompanhando. Foi até a área VIP que tinha uma sombrinha (experiência fala por si), parou no meio da mulherada, tirou uma onda, e voltou pro palco. Fantástico.

Depois descobri uma coisa, que na realidade nunca tinha parado pra pensar. O Buddy Guy tem 75 anos de idade. Ele tocou a última música que ele fez, o nome da música é “74 Years Young”, que ele compôs ano passado. Sonzeira. Show mais do que perfeito pra abrir os trabalhos musicais de um dia que prometia muito.

E aqui tem o set list do show dele.

Buddy Guy fazendo a pequena chorar

Ficamos no mesmo lugar, derretendo, no aguardo da Tedeschi Trucks Band, banda da Susan Tedeschi e do Derek Trucks (mulher e marido), que é um dos guitarristas do Allman Brothers, que na minha humilde opinião é o guitarrista mais foda dos últimos tempos. Outro Allman na banda é o baixista Oteil Burbrigde. Tive a oportunidade de assistir o show deles em 2011 no SWU, e definitivamente foi um dos melhores shows do festival.

A banda é nova, os dois já tinham carreiras solo consolidadas, e em 2011 juntaram as forças, montaram a banda e gravação um baita disco, o Revelator, que inclusive ganhou o grammy de melhor álbum de blues, superando os solos do Gregg Allman e do Warren Haynes. A banda consiste em 2 bateras, trio de metais, dois backing vocals (um deles é o Mike Mattison, vocal da carreira solo do Derek), tecladista (Kofi Burbrigde, primo do Oteil), baixista (Oteil) e os dois (Susan e Derek) nas guitarras e ela no vocal.

Pelas 15:15 começou o show. A banda é demais, os instrumentistas são uns monstros e ela canta muito. Confesso que o show do Brasil eu achei mais legal, mais pegado. O set list do Wanee foi bem mais leve, muitas músicas lentas em sequência. Não rolou aquele clima de ficar dançando igual o boneco do posto. Mas mesmo assim foi demais, as jams que eles fazem são incríveis. Parece que quando o Trucks tá tocando ele faz com que todo mundo que esteja tocando com ele toque melhor.

É sempre bom assistir um show que tu não sabe as músicas que vão rolar. Não é aquele set list estático igual em todos shows. Isso já deixa o show melhor. E foi assim que funcionou.

O que achei simplesmente fantástico, e que realmente não esperava, foram duas músicas que o Mike Mattison cantou da Derek Trucks Band. “I know” e “Down Don’t Bother Me” foram executas em momentos distintos do show, não uma atrás da outra. As duas são do álbum “Already Free” que aconselho muito a comprar, ou baixar.

Aqui o set list do show.

Tedeschi Trucks Band

Acabado o show fomos comprar chapéus. O sol tava de renguear cusco.

Em seguida retornamos ao Peach Stage pra ver o show do Furthur. Furthur é a banda do Bob Weir e do Phil Lesh, guitarrista e baixista do Grateful Dead. Não sou um grande apreciador de Grateful Dead, mas tava muito curioso pra ver o show. Quando começamos a andar pelo Wanee nos primeiros dias notamos que não é uma simples banda, é algo muito maior. Os caras são uma entidade, um modo de vida. Acho que eles tem tantos produtos quanto o KISS, Jerry Garcia (vocalista do Dead que morreu em 1995) coloca John Lennon no chinelo, enfim, é um esquema grandioso.

Tentei entender um pouco disso, e o que eu entendi após ter trocado uma ideia com um dos vendedores foi o seguinte: nos anos 60 o Grateful Dead não parava de excursionar, de tomar ácido e de tocar (foram eles que começaram com essa pilha de ficar fazendo jam durante 30 minutos). Saiam de San Francisco e viajavam os Estados Unidos num ônibus colorido (o Furthur). Os fãs eram hippies que gostavam de ver o mundo de um jeito colorido e seguiam eles nos seus próprios microbus. Onde eles iam tocar os caras (fãs) estacionavam seus veículos em frente do local e vendiam os produtos que eles mesmo faziam da banda. E o Wanee era um grande estacionamento dessa galera gente fina. Posso ter entendido errado, mas acho que era isso mesmo. Fazia todo sentido.

Quando começou o show parecia que o som tava baixo, mas foi melhorando. Achamos um lugar na sombra e lá ficamos. A previsão do show era de 3 horas. Das 17:30 às 20:30. A gente ficou lá por umas 4 músicas. Realmente não faz meu tipo de som. Mas era bacana ver o pessoal dançando de olhos fechados.

Uma coisa muito legal do Wanee é quanto mais louca a pessoa parecia, mais as pessoas gostavam dela. Então tu vê muita gente dançando de um jeito muito maluco, bem pior que festa de casamento, e as pessoas não olham atravessado, ao contrário, olhavam com um olhar de admiração. Cada um faz o que passar na cabeça e não tá nem aí. Lindo.

Furthur 

A gente saiu de lá e deu uma passada no Mushroom Stage e assistimos um pedacinho do show do Bonerama. Não ficamos muito porque iríamos assistir o show deles em New Orleans. É bem massa, mas depois vou escrever sobre eles.

Bonerama

Apesar de ter comido não fazia muito tempo, fomos comer um café da tarde porque a pilha era assistir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk e depois do Allman Brothers sem ter que parar pra comer.

Algumas pessoas nos falaram de um sanduiche muito bom que tinha lá e a gente resolveu provar. Era o Ham Sandwich Al Funghi. O preparo era extremamente simples, mas o gosto era fantástico, de deixar o vivente com as pernas bambas.

Partimos pro Mushroom Stage pra curtir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk (Ai- van Né-vil Damps-ta-fank). Que loucura. Já tava ficando escuro e o lugar estava muito maluco. Era bambolê que brilha do escuro pra tudo que era lado, muita gente de chapéu doidão, enfim...

O Ivan Neville toca teclado, e foi da banda solo do Keith Richards por um bom tempo. Já conhecia o trabalho da banda de uns discos baixados por aqui. Sabia que a coisa era boa, mas não tanto. Eles fizeram um especial Funkadelic, com as roupas que eles usavam nos anos 70 e o repertório inteiro dos caras. Nunca vi tamanha funkeira.

A banda é batera, teclado, trio de metais, baixo, guitarra e um coringa. Ele toca um pouco de guitarra e muito baixo. Ou seja, a maior parte do show os caras contam com dois baixistas. Banda dos sonhos. E assim... os caras tocam demais. Em vários momentos aproveitam o fato de ter dois baixos e um deles fica usando algum efeito maluco. Apelidei o som do baixo carinhosamente de “Brain Grinder”, a tradução livre “esmurrugador de miolos”. Nunca tinha presenciado algo como aquilo.

Quase todo mundo canta na banda, o que deixa mais legal ainda, o som fica muito cheio. Eles ocupam todo espaço possível, uma pedrada sonora bem no meio da cara. Se todo mundo tava dançando de um jeito maluco no show do Furthur, imagina no Dumpstaphunk tocando Funkadelic.

Essa foi a única foto que tiramos do show. hehehe

Com certeza um dos momentos mais divertidos que já passei na vida. E aqui tá o set do show.

Acabou o show, paramos um pouco, respiramos fundo (afinal o impacto foi forte) e seguimos pro Peach Stage, onde ia começar o show do Allman Brothers.

Um momento muito engraçado foi quando estávamos caminhando em direção ao palco num bréu q não se via nada, no meio de uma multidão sentada no chão, apareceram uns pés. Umas 5 pessoas estavam deitadas e com pés pra cima, tipo olhando pros pés e o céu de fundo. Eles pareciam estar conversando com os pés. E quando passamos por eles falamos: “Hello feet”. E nos responderam mexendo os pés: “Hello”.
Mesmo com aquele monte de cadeira fomos pro meio e ficamos perto do palco e centralizados. E ninguém reclamou. Muito saudável.

Tenho sorte de já ter visto 4 shows do Allman Brothers, ou seja, fui pro Wanee porque os outros dois que eu havia visto foram as experiências mais incríveis que tive em vida. O melhor do show do Allman é que tu não faz ideia do que vai acontecer.

O show teve um pequeno atraso, mas quando começou...

Abriram com a dobradinha que inicia o primeiro disco “Don’t Want You No More” e “It’s Is Not My Cross T Bear”. O show do Allman é o único com telão gigante no fundo, e que telão. Fica só passando imagens malucas, tipo como se tu estivesse dentro de um mãe da água bailarina. Em outros momentos são cogumelinhos que começam a dançar em volta de um grande Cogu. Fantástico. Pronto. Já tinha valido tudo.

Antes de começar a falar mais do show, quero comentar uma coisa, só vou relatar o que eu vi por lá, porque explicar as sensações é algo impossível. Já dizia isso antes, agora tenho duas testemunhas comigo. Só estando lá pra sacar o que se passa, e mesmo assim nem tu entende direito o que tá acontecendo.

Em seguida emendaram “Midnight Rider”. E era só o início. Seguiu com “Blue Sky”. Como disse, nenhum show dos caras é previsível, sempre mudam o repertório, afinal fazem de acordo com a pilha da noite. Mas “Blues Sky” realmente eu não esperava. Ela foi escrita pelo Dickey Betts pra mulher dele em 1972, e visto que o cara saiu da banda muito brigado com todo resto e essa é uma música bem pessoal, não era muito esperado. E foi demais ver o Warren Haynes cantando.

“Worried Down With Blues” que é original do Gov’t Mule, mas que seguidamente o Allman toca, continuou o show com o Warren nos vocais, e que vocais. Acho que o cara não precisava de microfone. A voz ecoava em todo canto. Nesse som se notava o desconforto do Gregg Allman. Em março ele abandonou um show no meio, e não pôde comparecer em outro por conta de um problema nas costas. E no meio dessa música ele saiu do palco. Confesso que rolou uma tensão no momento. Foi ele sair que o Kofi Burbrigde (tecladista da Tedeschi Trucks Band) assumiu o órgão do Gregg.

No intervalo desse som parecia que eles iam mudar o caminho do show, afinal, não estava nos planos “perder” o Gregg. Então tocaram uma instrumental que não tem em nenhum disco, e pelo q sei, eles vem tocando em alguns shows, a “Egypt”.

Depois disso chamaram a Susan Tedeschi pra cantar “Stand Back”, ainda com o Kofi no órgão.

Em homenagem ao Levon Helm, que havia falecido poucos dias antes e era grande amigo da banda há anos, fizeram um bloco especial com 3 sons. Começaram com “It’s Makes No Difference”, com a participação de toda a Tedeschi Trucks, menos os bateristas. Gregg Allman voltou e tocaram “Blind Willie McTell” que é o Bob Dylan, mas que o The Band tocava direto, mais que o próprio Dylan. E pra fechar o bloco Levon Helm tocaram “The Weight”, a música mais famosa do The Band, que tá na trilha do “Easy Rider”. Nessa além de ter novamente a participação dos vocais da Susan Tedeschi , dos backing vocals, e do trio de metais da Tedeschi Trucks Band, eles chamaram o Bob Weir, do Furthur. Momento realmente emocionante.

Levon Helm no telão

O show seguiu com “Dreams”. O Gregg cantou a parte dele, e saiu do palco de novo. E lá tava o Kofi para seguir no órgão. Então foi a hora de “In Memory of Elisabeth Reed”, música instrumental, que normalmente vai longe. E não foi diferente, e sempre uma viagem excelente.

Saíram do palco. Uns 5 minutos depois voltaram, e com o Gregg. Tocaram “No One To Run With” para fechar. O show teve 14 músicas, vários contratempos, quase duas horas e meia. Foi uma noite pra ser lembrada. Estar naquele lugar, rodeado daquelas pessoas desconhecidas e dos melhores amigos e ouvindo aquela música. Perfeito. E o melhor era saber que no outro dia tinha mais.

Finaleira do show com Duane no telão
E aqui o set do show.

Bom, depois disso nos restava só uma coisa: ir pro acampamento tomar a saidera e capotar. Na passada ainda tava rolando um show no Mushroom, mas era uma banda de música eletrônica, a Particle. Paramos só pra ver o Mushroom Stage mesmo e toda sua magia, e seguimos.


Obs.: agradecimento especial pra Thais pelas fotos. Senão fosse ela esse blog não teria imagens.

:^)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Ambientação no Wanee


5° | 19/04/2012, quinta-feira @ Wanee


A noite no Wanee era muito fria, principalmente pra gente que não foi preparado pra isso. Rolava uma chuvinha e a manhã era nublada. E pra completar era a hora de tomar aquele banho gelado. Mas era só imaginar o que estava por vir que isso tudo era motivo de sorrisos.

Curioso eram alguns chuveiros que ficavam numa espécie de caçamba de caminhão e divididos por boxes onde tu tinha que primeiro se ensaboar, e depois ficar segurando uma espécie torneira/alavanca pra sair água gelada do chuveiro. Ou seja, banho em doses homeopáticas. Uma maravilha. Era muito engraçado ouvir a cada esguicho q saía das dos chuveiros os gritos: “Oh my God!” ou “Son of a b...”. Existiam os banhos nos banheiros mesmo, com água o tempo inteiro ligada e essas coisas, mas normalmente tinham mais filas, e a água era igualmente gelada. Segundo relato da Gabi, ela tomou uma vez banho quente, mas foi no final dos shows, não na manhã.

Até levantar mesmo, arrumar um pouco melhor as coisas, algum tempo já tinha passado. De almoço fizemos uma super massa com molho que havíamos comprado no Walmart. Refeição de campeão.

Massuda típica de acampamento, não importa onde esteja

Era dia de Mushroom Stage. Bom, esse lugar é fantástico. A vibração do lugar é incrível. O palco fica num lugar todo fechado por árvores. Na frente tem um espaço pro pessoal curtir o show de pé, pulando, plantando bananeira, etc. E depois tem uma subida, estilo as praças porto alegrenses, onde ficam as árvores. Ou seja, onde tu estiver vai conseguir ver o show bem direitinho, a não ser que fique atrás de uma árvore. O pessoal aproveita as árvores e coloca suas redes pra curtir o show, ou muitas vezes, dormir. Lycras esticadas em cima do palco pra fazer sombra dão um ar de psicodelia, que junto com os duendes e os incansáveis bambolês... bah.

Vista de fora do Mushroom stage

Vista de dentro (não é do mesmo momento da foto acima)


Vista noturna

A função começou às 14:30 com uma banda chamada Bonnie Blue, mas não vimos. Chegamos no meio do show do Bobby Lee Rodgers Trio. Figuraça que ia fazer mais uns dois shows no Wanee, além daquele. O som é uma mistura entre rock, blues, jazz, mais um monte de coisa. Não curti muito, mas não tava ruim. E a banda tem uma humildade cativante. Valeu pela ambientação.

Um pouco antes das 17:30 Ray Manzarek (tecladista do Doors) subiu no palco e começou a se ajeitar. Às 17:30 começava o show dele com o RoyRodgers, um guitarrista americano de Delta Blues. Os dois fizeram um disco (aliás, QUE DISCO!) em 2011, chamado “Translucent Blues”. Havia baixado o disco, me apaixonado e estava esperando ansiosamente pra esse show, que imaginava que seria basicamente o disco mais alguma coisa de cada um deles. E pra constar, não curto Doors.

Ray Manzarek & Roy Rodgers Band

O show começou com a primeira música do disco, “Hurricane”. Bom, dali pra frente foi basicamente o disco inteiro, com (pelo que lembro) duas intervenções do Ray Manzarek. Numa ele fez só o piano de uma música do Doors, e deu um discurso sobre as drogas, o espírito do Wanee e dos anos 60. Climão de nostalgia e alegria. Eu que não conhecia a música senti isso. E em outro momento, mais pra finaleira, a banda tocou “Riders of the Storm”.

Show muuuito bom, músicos excelentes e um repertório muito legal. Foi impressionante ver um show de um cara da importância dele tão de perto e sem um empurrão. Bom registrar que a tarde foi extremamente ensolarada. Inclusive dando na moleira dos velhos no palco.

Foi mais ou menos nessa hora que recebemos a informação mais baixo astral da viagem inteira: Levon Helm havia falecido. Ex-baterista, vocalista e mais um monte de coisa do The Band, morreu de câncer. Bom, mas bola pra frente.

Final de tarde era hora do show do filho do homem, o DevonAllman’s Honeytribe (Dé-von Al-man Rã-ni Trai-bi). Outro show em que estava com bastante expectativa. Na frente do palco já tinha bem mais gente, e o clima parecia mais animado. Deve ser efeito da "noite".

Devon's Allman Honeytribe

A banda consiste num power trio que ele canta e toca guitarra, onde baixo e batera tem muito espaço, fazendo várias partes instrumentais só os dois. Eu conheço um disco deles (eles tem dois), o “Space Age Blues”, que gosto pra caralho e conheço todos sons. Bom, acho q eles tocaram umas 3 do disco. Mas mesmo sem conhecer muito do repertório o show foi muito bom. Muita energia da banda e bastante interação com o público, que respondia bastante. Muitas jams. Nesse show rolou um cover bem conhecido, “Midnight Rider” do Allman Brothers, que levantou muito o público. Outra coisa muito legal desse show foi um cartaz de tamanho real do Gregg Allman andando pelo público, até o Devon ver o cartaz e dizer: “Olha! É meu pai. Chega ser meio assustador”.

Junto com o Freaky Gregg

Logo que acabou o show a banda foi numa tenda de venda de discos. Apareci por lá e tirei umas fotos com os caras que foram extremamente simpáticos e felizes por um maluco do Brasil ter ido lá falar com eles.

Com os caras

Depois disso fomos bater um rango. Comi uma espécie de sanduiche de carneiro com pão sírio. Espetacular. Recheado ao melhor estilo do Speed. A carne do bicho derretia na boca e o tempero extremamente simples e muito bom. No final do lanche rolou aquela sensação de prazer que o cara chega ficar meio mole. Sim, a fome foi o maior tempero, mas outro dia repeti e tava igualmente bom. Pena não ter foto.

De volta ao Mushroom Stage. Às 21h começou o show do HotTuna Eletric. Essa banda foi formada em 1969 quando o Jeffersno Airplane fez uma pausa porque o vocalista tava mal da garganta. O resto da banda decidiu continuar fazendo um som e a ideia deu certo. O que era pra ser um projeto de verão virou uma banda que até hoje está fazendo shows e gravando discos.

O som é um rock bem na manha. Nada de muita distorção, viradas malucas de bateria. Coisa dos hippies americanos dos anos 60. Os velhos tocam e entendem muito. Fazem muitas jams. Transformam músicas de 3 minutos em músicas de 8 ou 9 minutos com muita facilidade. Não curti tanto pelo fato de não sentir as músicas mudarem muito a dinâmica. Elas ficam longas, mas mantém sempre a mesma levada. Para quem gosta de Bob Dylan e Grateful Dead eu aconselho, e muito.

Hot Tuna Eletric

Para fechar o dia rolou show do Conspirator. Banda de música eletrônica, mas ao vivo. Fazem tudo na hora, inclusive jams e tudo mais. A gente deve ter assistido uns 4 minutos e foi embora. Realmente não é minha praia, nem da Thais e nem da Gabi.

Fomos pras barracas tomar a saidera e ir pro colchão inflável. O grande dia estava para chegar!
:^)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Happy Wanee!


4°| 18/04/2012, quarta-feira @ Wanee Festival


Acordamos, arrumamos toda tralha de acamps que havíamos adquirido, enchemos o estiropor de gelo, comemos um café da manhã bem meia boca no hotel e fomos em direção a cidade de Live Oak.

Só pra situar a pilha do Wanee (se fala “U-ã-ni”), e tentarei fazer de um jeito resumido.

A viagem foi planejada em cima da data desse festival. O Wanee é o festival supremo do Allman Brothers Band e seus amigos. Acampamento e muita música. O Allman é a banda que sempre fecha as duas noites principais. Ainda tem shows das bandas dos membros da banda, tipo do Gov’t Mule, banda do Warren Haynes (guitarrista e vocal da banda), Tedeschi Trucks Band, banda do Derek Trucks e do Oteil Burbridge (respectivamente guitarrista e baixista da banda), Devon Allman’s Honeytribe (banda do filho do Gregg Allman), e por aí vai. Tudo entre amigos e familiares. Eu sempre li, vi e ouvi coisas sobre o Wanee e coloquei como objetivo de vida ir até lá conferir.

Desde 2009 quis ir, mas por um motivo ou outro nunca consegui, e em 2012 não tinha erro. Tive a sorte da Gabi e da Thais terem pilhado, e muito, na ideia e foram pra lá comigo.

Bom, a viagem de Jacksonville pro Spirit of Suwannee (sítio em Live Oak que rola o festival) foi rápida, uma hora e meia. A estrada é perfeita. Bastante movimento, mas todo mundo andando bem e respeitando as pistas. O limite de velocidade é 75 mph, mais ou menos, 120 km/h. E como não tem radar...

O festival começa na quinta-feira, e tem na sexta e sábado seus dias mais fortes. Recebemos o conselho pra ir na quarta-feira para conseguir um lugar melhor no acampamento. Chegamos lá no Spirit of Suwannee e fomos buscar nossas pulseiras, mapas, liberação pro carro e essas coisas. O movimento era tranquilo. Valeu ter seguido o conselho.

Chegando

Tudo pronto

O lugar é fantástico e gigante. Já na entrada estávamos de boca aberta e sorrindo feito crianças numa piscina de bolinhas. Ficamos lá 4 dias e não conseguimos ver tudo.

Próximo passo era achar o ponto de encontro.

História rápida.

Quando comprei nossos ingressos pro Wanee postei na página de facebook do festival que iríamos representar o Brasil. Um cara comentou meu post: “eu já represento há 5 anos”. Bom, resolvi falar com ele. Fernando Kaiser o nome do vivente. Trocamos uma ideia e ficamos amigos de imediato. Ele é brasileiro, de Curitiba, mas passou a adolescência aqui no BomFim, e mora na Florida há 11 anos, e o mais importante, é colorado. Foi ele que nos deu a barbada de chegar antes. E ele tava guardando lugar pra gente acampar na mesma área que ele e a mulher dele, a Lida, estavam. Com os dias criamos uma amizade muito bacana com os dois e melhoramos nosso inglês ao conversar com eles. A Lida é americana e tentamos ao máximo só falar inglês pra não excluí-la de nada, e pra praticar mesmo.

Encontramos com eles no ponto de encontro combinado, fomos para o local do acampamento e nos assentamos. Tomamos um pau pra armar as novas barracas, trocamos uma ideia, falamos sobre a vida, tomamos umas e fomos fazer o almoço.

Visão geral da nossa parte do acamps ainda vazio

Daqui já havíamos combinado de fazer dois “churras”. O Fernando comprou a carne pra gente e depois rachamos. Essa primeira foi uma delas. Uma alcatra já cortada em medalhões que já dava vontade de comer mesmo crua. Ele manja muito de cozinhar, e tem uma grelha muito legal que tu cava um buraco na areia, coloca carvão, taca-lhe fogo, e abre essa grelha em cima. Como se fosse uma mesinha, só que com uma tela no lugar da base. Praticidade é apelido. Se alcatra crua parecia boa, imagina ela assada. Pra acompanhar a Lida montou uma saladona que também tava excelente.

Tempo nublado para chuvoso e carne no fogo

Barriga cheia, era hora de fazer o reconhecimento do gramado. Para tentar sintetizar o clima do Wanee, lá é a terra mágica dos duendes felizes. O pessoal vai muito preparado pro acampamento, vários motor-homes, carrinhos de golf (em sua maioria customizado de forma hippie), churrasqueiras, mesas, enfim... os caras levam as casas pra lá. A maioria das pessoas eram mais velhas, pareciam ter vivido em Woodstock. Muita gente usando camisetas, calças, até meias tie dye. No geral usavam roupas e adornos pra divertir o próximo. Óculos malucos, chapéus engraçados, e mais um monte de parafernália. O mais importante de tudo, todos estavam sorrindo. Logo que saímos pra essa caminhada uma hipponga nos olhos com um sorrisão e gritou: “Happy Wanee”. Respondemos na hora a mesma coisa e quase chorou de tanta felicidade. Definitivamente estávamos no lugar certo.

Gabi e eu

Eu e Thais

Como nas últimas edições do festival muita gente começou a acampar mais cedo, eles colocaram 4 bandas pra tocar na quarta-feira, e chamaram isso de Happy Hour do Wanee.

Os shows eram num palco diferente do que seria usado pro resto do festival. Era uma cabana rodeada de árvores, conhecido também como Engine Barn Stage. Era menor e numa áera pra menos gente.
Não ficamos o tempo inteiro na frente do palco assistindo os shows, pois quarta seria o único dia pra ficar “passeando”. Então ficamos rodeando pelas lochinhas, palcos, bares, etc.

Para comprar comida e bebida se comprava tickets conhecidos como “Wanee Money”. A ceva custava 5 WM, tu podia escolher entre 5 tipos de cerveja, e tinham diversas bancas espalhadas pela área dos shows. Um lanche bacana tinha q investir uns 8 ou 9 WM. A “praça de alimentação” ficava entre os dois palcos. Pro acampamento tu podia levar e beber o que quisesse, mas pra área dos shows só se podia consumir o que comprasse lá. Bom constar que na área dos shows havia vendedores ambulantes que gritavam “ICE COLD BEER”, e vendiam ceva (Bud) de 16 onças, equivalente a nossa de 473ml, por 7 doletas.

Indicação pra compra de Wanee Money e algumas amostras

Primeiro show foi da “Beebs & The Honeymakers”. A Beebs é uma mulher que se veste com uma roupa bem diferente e parece uma boneca maluca, e os Money Makers são a banda dela. O som é bacaninha, não me agradou a ponto de procurar o disco, mas é um bom som pra uma festinha. Difícil rotular a banda, o melhor é ouvir. Aqui um link pro clip deles.

Beebs and the Money Makers

Depois tocou "Juke". Não levei muita fé porque o vocalista era um baixinho marrento lutador de jiu-jitsu. Maldito pré-conceito. Em seguida pensei, e se for um lutador de jiu-jitsu marrento, mas cantar pra caralho? Foi mais ou menos o que rolou. O cara canta bem e toca muita harmônica. Banda bem legal, rock com blues pegado. 

Em seguida, show do “Flannel Church”, banda do Duane Trucks, irmão mais novo do Derek Trucks. Mas este Trucks assim como seu tio, é baterista. A expectativa era grande, afinal background familiar é o que não falta. Mas o show não foi muito legal. Meio duro demais, não rolava aquele groove esperado.

Por último, o show do “Cope”. Não fazíamos nem ideia de que banda era essa, mas foi muito legal. Um rockão bem bacana, banda com vontade de tocar, muito groove. Enquanto a banda tocava e fazia suas jams um artista ficava no canto do palco pintando um duende. Muito bom.

Show do Cope. Detalhe pro teto da cabana

Assim que escureceu já começou a rolar um “telão” muito legal, que na hora do “Cope” por estar mais escuro ficou mais evidente. Eles projetavam as imagens das bandas com efeito de raio x verde nas árvores que ficavam na volta do palco, e alternavam com cenas do “Alice no País das Maravilhas”. Por mais clichê que pareça, num momento como aquele era impossível não cantar: “It’s getting better all the time”.

Imagem do batera nas árvores
Obs.: câmera não faz milagre

Depois disso era hora de voltar pra barraca e dar boa noite. O dia seguinte prometia!
:^)